sábado, 20 de agosto de 2011

Existe vida após a morte?


Osho,
O ser, o self em uma pessoa morre com a morte da pessoa; ou vive depois da morte em outro corpo?

A questão é um pouco complicada. Primeiro você tem que entender que a sua personalidade não é a sua realidade; ela é dada pela cultura, pela sociedade. Individualidade é sua, mas personalidade não é sua.
Como personalidade você está sempre morto. Somente como individualidade você está vivo. Mas para ser um indivíduo você tem que se rebelar contra a personalidade e contra todas aquelas pessoas que estão forçando uma certa personalidade em você. Cada criança nasce com um certo potencial de ser e cada sociedade tenta fazer dele alguma outra coisa.
Eu ouvi contar sobre um homem que estava celebrando as bodas de ouro de seu casamento.
Todos seus amigos, parentes e conhecidos estavam reunidos. Estavam muito felizes e alegres. Mas de repente eles perceberam que o homem não estava presente. Eles não podiam entender onde ele tinha ido. Eles procuraram no jardim e ele estava sentado nas sombras, no escuro, do lado de uma árvore, muito triste.
Seus amingos disseram, "Isso é estranho. Você chamou todos nós para celebrar, e você está sentado aqui em tanta tristeza como se alguém tivesse morrido! Qual é o problema? "
Ele disse, "O problema é... Esta mulher com quem me casei tem me torturado tanto nesses vinte e cinco anos atrás. Eu indaguei ao meu advogado, 'Se eu atirar nela o que acontecerá?' e ele disse, 'Você é louco? Se você atirar nela você ficará vinte e cinco anos na prisão!'
Eu estou triste porque hoje eu poderia estar livre. Aquele advogado idiota está morto; caso contrário eu iria matá-lo! Ele me amedrontou."
Um homem tem que viver com uma mulher que não ama, a qual é simplesmente miserável. Uma mulher tem que viver com um homem... o qual é simplesmente miserável, um inferno. Um homem tem que trabalhar em certa profissão que odeia. Todos se tornam algo que não gostam. Esta é sua personalidade.
A sociedade desvia todo mundo de sua natural individualidade e faz deles alguma coisa diferente do que eles estavam destinados a ser.
Então a primeira coisa e entender é que você não é uma pessoa, você não é uma personalidade. A palavra 'pessoa' vem do drama grego. No drama Grego os atores usavam máscaras, e a máscara... você não podia ver a real face da pessoa; você podia apenas ouvir seu som. Sona significa som. Persona significa que você não sabe quem está falando; você somente ouve o som, o rosto está faltando.
A palavra 'personalidade' vem daquele drama Grego. Todos estão vestindo uma máscara. Você pode ouvir o som, mas você não pode ver o rosto; você não pode ver o indivíduo.
Então a primeira coisa: Você não é uma 'pessoa'. Se você for uma pessoa, você já está morto. Você vem se arrastando do berço até a tumba mas não nunca viveu, se você é somente uma personalidade. Você vive somente quando você é um indivíduo, quando afirma você mesmo contra cada tradição, cada religião, cada passado que quer que você seja alguém diferente do que a existência quer que você seja. Aí então você vive.
De novo me fez lembrar: um grande cirurgião que eu conhecia talvez ele fosse o mais famoso cirurgão da Índia. Ele estava se aposentando, e todos seus amigos, seus colegas, tinham dado a ele uma festa, uma festa de despedida, mas ele estava triste.
Eu perguntei a ele,"Porque você está triste: você deveria estar feliz: você é o melhor cirurgião de todo o país."
Ele disse, "Você não entende. Em primeiro lugar eu nunca quis ser um cirurgião, então quem se importa que eu seja o melhor cirurgião? Eu odeio ouvir isso! Eu queria ser um músico, mas meus pais forçaram-me a ser um cirurgião contra meu desejo. Eu me tornei um cirurgião. Por sorte eu me tornei o melhor cirurgião; talvez eu não tivesse sido capaz de ser o melhor músico. Eu sou rico, eu tenho tudo, eu tenho respeitabilidade, mas isso não me ajuda a ser feliz. Ainda que eu tivesse sido um mendigo, como um músico eu poderia ter sido feliz porque eu teria sido eu mesmo. Este cirurgião parecia ser outra pessoa; como um papel que desempenhei, mas não eu. Aquelas pessoas estão celebrando, e eu estou chorando dentro de mim porque minha vida inteira está perdida."
Então, primeiro, você não é uma 'pessoa'; senão você já está morto antes da morte. E há milhões de pessoas que morreram trinta, quarenta, ou cinquenta anos antes de morrerem realmente. Você é um indivíduo, e somente individualmente é capaz de conhecer seu verdadeiro eu. Personalidade não tem um eu, mas somente um ego, tão falso como a personalidade. Individualidade tem um eu, uma alma. O indivíduo é um princípio de vida.
Se você conhecesse a vida você nunca perguntaria isso. Conhecer a vida autenticamente significa que você também sabe que é imortal. O conhecimento da imortalidade é intrínseco. Não é algo informado, de fora. Somente vivendo sua realidade, sendo total você vagarosamente, vagarosamente se torna consciente de sua imortalidade, da corrente de vida dentro de você. Você sabe que o corpo irá morrer, mas esta alma, a qual é a essência de toda a vida, não morre.
Na existência nada se destroi. E isso não é algo para acreditar, é científico, verdadeiro, que você não pode destruir nada. Você não pode destruir nem um pequeno pedaço de pedra. Qualquer coisa que você faça irá permanecer em alguma outra forma.
A ciência indaga dentro do mundo objetivo e descobre que até a realidade objetiva é imortal. A religião trabalha exatamente como a ciência no mundo interior e descobre que a dança da vida é intrinsecamente imortal.
Será bom lembrar Sócrates neste ponto porque ele não foi um homem de crença em nada. Se você tivesse perguntado a ele se sua alma iria sobreviver após a morte do corpo ele diria, "Deixe-me primeiro morrer porque a menos que eu morra, como eu posso dizer?"
E o dia que lhe foi dado veneno é um dos mais significantes dias na história do homem. Seus discípulos estavam sentados em volta dele e ele estava deitado. Ele falou a seus discípulos,"Eu irei contar a vocês o que está acontecendo. Tão longe quanto eu puder, eu irei informando a vocês."
Então ele disse, "Acima de meus joelhos, minhas pernas estão mortas. Por favor, alguém belisque minhas pernas, assim posso saber se a sinto ou não." Alguém beliscou suas pernas. Ele disse, "Eu não posso senti-las; as pernas tinham morrido. Mas lembrem-se de uma coisa: Eu estou tão vivo como eu sempre estive. A morte das pernas não cortou uma parte da minha vida; minha vida está tão inteira quanto sempre foi." Então as pernas morreram, metade do corpo. E ele disse, "Metade de meu corpo está morto, mas eu estou inteiro, tão inteiro quanto sempre."
Então suas mãos se tornaram mortas e ele disse, "Eu ainda estou aqui e eu ainda estou inteiro. Talvez agora meu coração pare, mas eu posso dizer para vocês que ainda que eu não seja capaz de lhes informar, eu irei permanecer, porque se todas estas partes se foram e eu estou completo, então não importa: o coração é apenas uma parte."
E quando ele morreu seu rosto estava tão radiante, tão alegre, que Platão, seu discípulo, lembra, "Nós nunca tinhamos visto seu rosto tão cheio de luz, tão radiante. Talvez o último momento quando a alma está deixando o corpo seja como o pôr do sol quando o sol está descendo e o céu inteiro se torna tão bonito e radiante."
Não é uma questão de crença. Eu não sou um crente em nada. Então eu não direi a você para acreditar em mim que a alma é imortal. Mas essa é a minha experiência que ela é imortal porque eu posso me lembrar de minhas vidas passadas, o que é uma prova sólida que haverá vidas futuras.
Eu posso ensinar a você técnicas para relembrar vidas passadas e isso será uma prova sólida para você de que você tem um futuro. Você tem uma eternidade de passado e uma eternidade de futuro. Você sempre esteve aqui e você sempre estará.
Mas primeiro derrube sua falsa personalidade. Cresça dentro de sua autêntica individualidade. Viva da forma que a existência quer que você viva.
Suas muitas vidas deveriam ser tão intensas e tão totais que você queima sua tocha da vida nas duas pontas. Em tamanha intensidade você saberá que você tocou algo de eterno. E se você souber disso em sua vida, em sua morte você encontrará uma profunda confirmação do fato.
Pessoas que vivem na personalidade sempre morrem inconscientes. Eles nunca viveram. Eles não sabem o que é consciência, então antes da morte eles se tornam inconscientes. Por isso nós não nos lembramos de nossa vidas passadas. Vocês estavam inconscientes, e a morte aconteceu em sua inconsciência. Mas se você vive conscientemente como um individuo então você morrerá conscientemente, da forma como Socrates está morrendo, tão consciente até o último suspiro. E esta memória estará com você na próxima vida também.
No oriente há três grandes religiões: Hinduismo, Janaismo, Budismo. Elas discordam em todos os pontos, suas filosofias são diferentes sobre tudo, mas em um ponto eles concordam, que é a eterna existência da alma, porque isso não é uma questão de discussão teórica, é uma questão de experiência existencial. Você não pode discordar disso. Isso é exatamente assim,
Contra essas três religiões do oriente, fora da Índia, há três religiões: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Todas elas acreditam em uma única vida, o que simplesmente mostra sua pobreza. Elas não exploraram profundamente o suficiente para encontrar vidas passadas, e elas não garantem nada sobre o futuro. Essas três religiões nascidas fora da Índia são superficiais. Seu trabalho não é de pesquisa profunda.
Mas na Índia por dez mil anos milhões de pessoas têm entrado em realização do self e têm percebido que há alguma luz que sempre permanece. Isso vai se movendo de um corpo para outro corpo, mas é indestrutível.
Eu não direi para você acreditar, eu somente direi a você para experimentar. Eu sou contra qualquer crença, porque toda crença destroi você, destroi seus pensamentos. Eu sou a favor de experimentar. E há técnicas para isso. Esse tem sido o trabalho de toda a minha vida: tornar estas técnicas disponíveis para qualquer um que queira realmente buscar e encontrar, para aquele que não é apenas uma pessoa curiosa mas sim alguém que busca e que está pronto para arriscar tudo nessa busca. E esta é uma busca pela qual você precisa arriscar tudo porque você irá encontrar o maior tesouro. (Osho)
Tradução: Andreza Mattar